sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Conectividade para a sobrevivência no caos

Na minha vivência em projetos de consultoria com corretoras de seguros, nestes ultimos anos, observei a existência de três forças distintas, qualquer uma delas provavelmente suficiente para provocar mudanças significativas nas empresas. Porém, é a conexão entre essas forças que provoca consideráveis mudanças nos resultados.
As três forças são: tecnologia, globalização e processamento. Enquanto as duas primeiras são facilmente compreensíveis, concretas e amplamente difundidas em mídias especializadas, a terceira forca, que aqui chamo de processamento, por não achar outro termo mais apropriado, está ligada ao crescimento econômico, ao estresse dos sistemas e às crescentes complexidades e interdependências. Os sintomas mais observados são os colapsos – crises sociais, ecológicas e institucionais, em uma escala sem precedentes. É difícil encontrar uma corretora que não sofra panes no seu funcionamento.
Muitas pessoas parecem acreditar que a tecnologia é o principal propulsor de mudanças – um fato cultural convencional nas sociedades industriais. Acho que apenas as mudanças mais superficiais estão sendo provocadas pela tecnologia, com exceção da tecnologia que move a informação. A segunda força motriz, a globalização das empresas e de mercados que surge quando se opera em um ambiente de negócios global, no qual se pode produzir e vender qualquer coisa em qualquer lugar.
Entretanto, a terceira razão para toda essa mudança que estamos vivenciando é a mais importante. Um colapso nervoso no processamento, relacionado à incapacidade dos gestores de corretoras em compreender e gerenciar os complexos sistemas humanos.
Tecnologias como a do computador desempenham um papel positivo e vital na compreensão da complexidade que estamos criando, mas esses benefícios não estão apenas na tecnologia – e sim na interação entre as tecnologias e, principalmente, nas novas interpretações sobre sistemas complexos.
Mudanças sem precedentes estão ocorrendo nos sistemas sociais, provocadas pela aceleração do crescimento econômico global. Assim como estamos destruindo a biodiversidade, estamos destruindo a diversidade cultural, o “tanque genético” da evolução cultural. A homogeneização da diversidade cultural e a destruição da história cultural são forças centrais que estão por trás dos colapsos sociais que ocorrem em todo o mundo.
Para a maioria das corretoras, questões como essas estão “fora da agenda” – não são nem mesmo remotamente consideradas, quanto mais discutidas. E, no entanto, essas mesmas corretoras são formadas por seres humanos, e esses estão se sentindo cada vez mais desconfortáveis. Eles se sentem cada vez mais apreensivos a respeito do meio ambiente. Cada vez mais apreensivos com colapsos na estrutura familiar e social. Cada vez mais apreensivos com a contínua concentração de riqueza e poder. Eles gostariam de acreditar que esses “grandes problemas” se solucionariam sozinhos, que a tecnologia a ser ainda desenvolvida providenciaria as curas. Mas então, eles olham para o mundo, para as conseqüências definitivas do progresso tecnológico até o presente, e sua certeza diminui. Eles convivem com essa situação deixando de pensar no futuro, ocupando-se em reagir aos colapsos. Estão apreensivos, temerosos. Realmente não sabem o que pensar. Não sabem o que dizer aos seus filhos.
Tudo isso fala de uma nova realidade. Nós, como espécie, estamos sendo confrontados com uma classe totalmente nova de problemas para os quais estamos completamente despreparados. São as “crises sistêmicas”. Elas não têm causas simples ou locais. Não há quem culpar. Não há vilões para punir. Esses problemas representam subprodutos involuntários do modo como todo o sistema de progresso industrial funciona, especialmente neste momento em que ele cresce em escala global. Qualquer avaliação racional diria “diminua a marcha”. Tanta coisa está mudando que não conseguimos compreender, portanto deveríamos pelo menos “diminuir a marcha” e tentar readquirir algum equilíbrio e perspectiva, para compreender essas mudanças sistêmicas momentâneas.
Mas é claro que não podemos diminuir a marcha. Por que não podemos diminuir a marcha? Porque não temos literalmente capacidade alguma para controlar nosso comportamento nesse nível. E, é claro, essa é precisamente uma parte do problema.
A força mais profunda que impulsiona as mudanças é a consciência que estamos em sérias dificuldades. À medida que essa consciência aumentar, conseguiremos ver mais claramente que o papel das organizações e das pessoas que nela atuam precisa mudar e para isso será necessário o desenvolvimento das pessoas para compreender e lidar com a complexidade.

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